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Ayrton Montarroyos interpreta o álbum ‘Elis & Tom’ entre o drama e a leveza

Ayrton Montarroyos no palco do Sesc 24 de Maio no sábado, 12 de outubro Reprodução / Vídeo Instagram Sesc 24 de Maio ♫ OPINIÃO SOBRE SHOW Título: Ayrton...

Ayrton Montarroyos interpreta o álbum ‘Elis & Tom’ entre o drama e a leveza
Ayrton Montarroyos interpreta o álbum ‘Elis & Tom’ entre o drama e a leveza (Foto: Reprodução)

Ayrton Montarroyos no palco do Sesc 24 de Maio no sábado, 12 de outubro Reprodução / Vídeo Instagram Sesc 24 de Maio ♫ OPINIÃO SOBRE SHOW Título: Ayrton Montarroyos interpreta Elis & Tom Artista: Ayrton Montarroyos Data e local: 12 de outubro de 2024 no Sesc 24 de Maio (São Paulo, SP) Cotação: ★ ★ ★ 1/2 ♪ Poucos cantores brasileiros revelados neste século XXI têm técnica vocal apurada que os habilite a encarar os standards mais requintados da MPB sem passar vergonha. Pernambucano residente em São Paulo (SP), Ayrton Montarroyos é cantor de técnica lapidar, um intérprete de alma tão antiga que sequer causou estranhamento o fato de o artista ter sido convidado pelo Sesc 24 de Maio para encarar o repertório do cinquentenário álbum Elis & Tom, lançado em 1974 pela gravadora Philips com o histórico encontro fonográfico de Elis Regina (1945 – 1982) com Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994), o Tom Jobim. Sob direção musical do pianista Nelson Ayres, autor dos arranjos, o cantor apresentou o show Ayrton Montarroyos interpreta Elis & Tom no sábado e domingo, dentro do ciclo 74/24 – Meio século de discos históricos. Na sessão de sábado, 12 de outubro, problemas de som – imperceptíveis para o público, mas incômodos para quem estava no palco – atrapalharam o cantor e a banda formada por Nelson Ayres (ao piano), Webster Santos (violão), João Fideles (bateria) e Alberto Lucas (baixo), prejudicando a fluência do show nos primeiros números. Contudo, Ayrton e os músicos driblaram os imprevistos técnicos e fizeram um bom show. Ayrton Montarroyos se confirmou intérprete vocacionado para dar voz aos dramas afetivos de músicas como Modinha (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958), Retrato em branco e preto (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1967) e Soneto de separação (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959). Quando foi além do formalismo técnico, como no canto da fatalista O que tinha de ser (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959), o cantor cresceu em cena, roçando o arrebatamento que sequer se insinuou em Pois é (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1970), frio número inicial de roteiro aberto com exibição do trecho do documentário Elis & Tom – Só tinha de ser com você (2022) em que Elis, em momento de descontração no estúdio geralmente tenso, canta Céu e mar (Johnny Alf, 1958) diante de Tom Jobim. De toda forma, o show serviu para mostrar que o canto de Ayrton Montarroyos também pode soar leve. O cantor regou Chovendo na roseira (Antonio Carlos Jobim, 1973) com essa leveza, transmitiu o sentimento de paz de Brigas nunca mais (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) e flertou sutilmente com o samba-jazz ao fim de Só tinha de ser com você (Antonio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira, 1964). É claro que ninguém alcança a dimensão do canto de Elis Regina, e seria injusto e cruel cobrar de Ayrton uma equidade inatingível. Citado na abertura do show de forma instrumental, o samba Águas de março (Antonio Carlos Jobim, 1972) exemplificou essa impossibilidade ao ser cantado no fim da apresentação com arranjo reverente à inigualável gravação do álbum de 1974. Como afastar da mente o dueto de Elis e Tom no disco cinquentenário? Nem por isso Ayrton Montarroyos deixa de ter grande mérito. Este senhor cantor de 29 anos se equilibrou bem entre o drama e a leveza ao abordar o repertório do álbum de 1974 e ainda marcou posição política quando, no bis, inverteu o gênero de Bonita (Antonio Carlos Jobim, 1963) ao cantar em tom íntimo, sentado na beira do palco, essa música gravada para Elis & Tom, mas limada da seleção final deste disco que conserva frescor aos 50 anos. Palmas para Ayrton Montarroyos que ele merece!